sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Busca e Salvamento - Ferramenta Canina

O emprego de binômios (homem x cão) na área de resgate iniciou-se durante a Segunda Guerra Mundial na Grã-Bretanha, após bombardeios que colapsaram estruturas inteiras deixando civis sepultadas sob escombros. Foi a primeira vez em que cães foram utilizados na localização de pessoas. Após esse histórico evento, a ferramenta canina passou a ser utilizada em desastres no mundo como nos terremotos do México (1985), El Salvador (1986), ataques as torres do World Trade Center (2001) e mais recentemente no Haiti em 2010.

Rip, cão mestiço terrier encontrado nas ruas em 1940 e que foi escolhido para a experiência, após rápido treinamento, para ser o primeiro cão de salvamento. Como reconhecimento a sua grande coragem e valia no resgate de pessoas durante a Segunda Guerra Mundial, recebeu a Medalha Dickin por bravura em 1945. Medalha que levava em seu pescoço a partir de então até que morreu em 1946. Rip salvou as vidas de centenas de pessoas durante a Segunda Guerra.

No Brasil, desastres de causa natural, humana ou mista ocorrem em períodos inesperados e atingem pessoas de todas as classes sociais, credos e etnia. Os mais comuns são colapsos estruturais e escorregamento de terra com soterramento em períodos de fortes chuvas sendo este o mais mortal dos desastres. Para o primeiro, existe a adaptação da doutrina internacional em Busca e Resgate em Estruturas Colapsadas (BREC) que foi desenvolvida para a atuação em terremotos e já para o segundo, os Corpos de Bombeiros Militares dos Estados de Santa Catarina e Pernambuco são pioneiros na doutrina. Entretanto, o tempo gasto na localização de vítimas nessas circunstâncias é fundamental para a sobrevivência destas. Por isso, o cão torna-se uma ferramenta potencializadora do trabalho de localização já que o trabalho humano não é dispensado. Um dos motivos para a utilização dessa ferramenta é que cão possui capacidade olfativa mil (1000) vezes maior do que a do homem e o seu olfato será o principal aliado na localização de pessoas. Também, pode ser destacado o custo x benefício uma vez que os cães são um recurso barato a ser mantido. Equipamentos tecnológicos foram desenvolvidos no intuito de localizar pessoas desaparecidas nos eventos supracitados mas, sua aquisição, manutenção e até a limitação em sua utilização os torna menos eficazes comparando-se aos cães.

Binômio do CBMSC empregado em missão na cidade de Navegantes em SC após desastre que acometeu o estado em 2008 trazendo prejuízos materiais diversos e perda de vidas.

Não existia em nosso país uma doutrina de cinotecnia para busca e salvamento já que os trabalhos iniciais foram adaptados da atividade realizada por cães de polícia o que não tornava eficaz o resultado esperado. O Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Santa Catarina através da Coordenadoria do Serviço de Cães vem sendo um polo de exportação do conhecimento para outros estados do Brasil através da capacitação de diversos Bombeiros Militares e desenvolvimento de doutrina específica para a atividade. Um cão de busca e resgate demora um ano e meio até se tornar totalmente operativo desde que tenha o treinamento realizado de forma correta. A escolha do cão pode variar do sexo e comportamento que serão analisados por seu futuro condutor na seleção do filhote. As raças mais trabalhadas hoje em nosso país são os cães Retriever do Labrador e Pastor Belga de Malinois mas, podem ser destacados também o Golden Retriever, Pastor Alemão, Border Collie e Boiadeiro Australiano. Existem várias etapas a serem seguidas durante o processo de formação do cão de busca e é interessante que estas não sejam puladas para que o resultado seja satisfatório. Para os cães, a atividade deve ser prazerosa e isso requer muito tato e paciência do condutor durante o processo de aprendizado. Uma vez pronto, o cão deve estar apto a buscar pessoas vivas em ambientes como estruturas colapsadas, áreas deslizadas, matas e mortas nos mesmos ambientes e submersas.

Brasil, cão de Busca e Salvamento da raça Retriever do Labrador - CBMSC.

Contudo, o único mecanismo capaz de aferir a eficácia do binômio é a certificação. A Organização das Nações Unidas estabelece os padrões mínimos operativos para um cão de busca urbana, através do INSARG (International Search and Rescue Advisory Group) um organismo que regula e edita normas internacionais para padronizar as equipes de resposta a grandes desastres (principalmente terremotos). Esses protocolos dizem o que os cães  devem fazer em uma operação, no entanto não estabelecem a forma pela qual esse potencial operativo será medido. Para isso alguns organismos estabeleceram provas certificadoras feitas para esse fim. Os dois organismos com mais influência no Brasil são a IRO ( Organização Internacional de Cães de Resgate) com sede na Áustria e com atuação em todos os continentes e a FEMA (Agência Federal de Gerenciamento de Desastres) dos Estados Unidos da América.
A ABRESC Brasil (Associação de Busca, Resgate e Salvamento com Cães do Brasil) e o Corpo de Bombeiros Militar do Estado de Santa Catarina possuem provas de certificação baseadas nos regulamentos da IRO (International Rescue Dog Organisation) já que os demais grupos nacionais não adotam provas de certificação. A busca pela excelência na atividade em nosso país fez com que membros de Corpos de Bombeiros de outros estados procurassem a certificação catarinense que tornou-se uma prova nacional. Além dos binômios de Santa Catarina, o Espírito Santo conseguiu certificar uma dupla recentemente na prova nacional. Já na prova internacional, apenas Santa Catarina conseguiu certificar os cães. Já a prova internacional não afere o desempenho do bombeiro, apenas a atuação do binômio e está dividida nos níveis A e B. Um grande complicador hoje são os grupos ditos voluntários em executar a atividade de forma amadora e até aventureira por não seguirem os padrões e protocolos exigidos em ocorrências de bombeiros, trazendo risco a suas vidas e a vidas de terceiros.

Prova de Certificação Internacional realizada em Itajaí-SC, no ano de 2011.

Na Bahia, diversos eventos de soterramento e colapsos estruturais ceifaram muitas vítimas como nos casos do Hotel Mustang e Bom Juá quando na época, ainda não existira a atividade que hoje, é desenvolvida na região metropolitana de Salvador (RMS), com treinamentos diários na cidade de Simões Filho, no 10º Grupamento de Bombeiros Militar (GBM), unidade da RMS que possui canil e conta com 11 cães - 4 em estágio avançado de treinamento, 4 filhotes, 2 de cinoterapia e 1 matriz - visando atender as demandas as quais exijam seu emprego. Foram ministrados três cursos de capacitação no 10º GBM em parceria com a ABRESC Brasil, formando 38 bombeiros da Bahia e 36 de outras Instituições co-irmãs utilizando a doutrina catarinense. O próximo passo, é trazer as provas de certificação para nosso estado vislumbrando aferir as necessidades operativas tanto para  os binômios da Bahia quanto para os dos estados mais próximos. A prova de certificação nacional visa aferir o conhecimento do homem através de simulação de busca em área de mata na qual o bombeiro tem de se deslocar através de orientação com coordenadas geográficas até o local da ocorrência e depois disso, inicializar a busca com o cão. Já no ambiente urbano, o binômio é avaliado de forma unica. Além da busca, são aferidos a destreza e obediência dos cães. Assim, os bombeiros que desenvolvem a atividade poderão falar a mesma língua e seguir um padrão no nosso país.

2º Curso de Busca, Resgate e Salvamento com Cães - 10º GBM PMBA/ABRESC Brasil. Outubro de 2011.

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