domingo, 9 de maio de 2010

"Gente Podre" Assaltantes de Vítimas


Quando comecei a atuar como bombeiro militar meus amigos me perguntavam como eu me sentia ao ver pessoas acidentadas e até eu mesmo me surpreendia por não sentir o que todos achavam que eu deveria sentir, dizem que se tivesse a minha profissão não conseguiriam dormir por ver sangue, ouvir gritos ou ver pessoas mortas. Mas isso são coisas que acabamos por nos acostumar, até mesmo quem vê noticiários e jornais sensacionalistas mostrando acidentes e mortes todos os dias se acostuma.


Impacto mesmo eu tive quando disseram que temos que isolar o local não apenas para a nossa proteção pessoal ou para os curiosos não atrapalharem nosso trabalho e sim para que pessoas mal intencionadas não furtassem os pertences das vítimas, tomei um susto. Pensei: “como é que pode uma coisa dessas, os acidentados ali agonizando e tem gente pensando em saquear seus pertences”. Hoje penso diferente, não são pessoas mal intencionadas são ladrões, não são saques e sim furtos.


Estou escrevendo sobre isso indignado, pois acabo de ler que vitimas dos deslizamentos em Angra no Rio de Janeiro estavam sendo enterradas e enquanto isso suas casas saqueadas, que pessoas estavam enterrando seus parentes e que ao chegar em casa não tinha fogão, nem televisão. Isso é podre, isso fede mais que um defunto jogado num lago e que nós bombeiros fomos acionados para retirá-lo depois do quarto ou quinto dia de desaparecido, com esse tipo de coisa eu não consigo me acostumar.
Texto Publicado no livro: Fala Escritor em Prosa e Poesia
Autores: Leandro de Assis, Carlos Souza, Fátima Ferreira, Grigório Rocha, Monique Jagersbacher, Renata Rimet, Sandra Stabile e Valdeck Almeida.
Editora: Virtual Books
Valor: R$ 15,00
Onde: Livraria Saraiva